As regiões dos vinhos portugueses
| Artigo escrito pela especialista de vinhos Maria João de Almeida
| Artigo escrito pela especialista de vinhos Maria João de Almeida
Situada para lá das serras do Marão e Alvão, a norte do rio Douro, a oriente do Minho até à fronteira espanhola com a qual também confina, Trás-os-Montes é uma região composta por três sub-regiões: Chaves, Valpaços e Planalto Mirandês. Em Chaves, as vinhas situam-se nas encostas de pequenos vales onde correm os afluentes do rio Tâmega, os solos são muito férteis, essencialmente graníticos e com manchas de xisto. Já em Valpaços, os solos são maioritariamente de xisto, existindo muitas zonas de transição com solos graníticos. Por último, o Planalto Mirandês, a sub-região mais alta, localizada a sudeste. Aqui o rio Douro tem uma grande influência no cultivo da vinha, devido a grandes amplitudes térmicas, baixíssima humidade e a incidência de ventos. Os solos são essencialmente xistosos. Pela diversidade de microclimas a tipicidade dos seus vinhos é muito diversa, mas com características comuns. Os tintos são geralmente encorpados, frescos e com boa estrutura. Já os vinhos brancos são muito frutados e minerais, com paladar equilibrado e boa acidez.
A região do Algarve é privilegiada pela localização meridional e a proteção assegurada pela barreira montanhosa de Monchique contra os ventos frios do Norte e a exposição em anfiteatro virada ao Sul, que cria um clima favorável para a vinha. Existem no Algarve quatro Denominações de Origem Controlada (DOC) Lagos, Portimão, Lagoa e Tavira, onde nos últimos anos novas marcas de vinho surgiram no mercado.
Além das castas tradicionais, principalmente as tintas Castelão e Negra Mole e as brancas Arinto e Síria, nos últimos tempos têm obtido grande sucesso as variedades tintas Touriga Nacional e Syrah, esta última, uma casta de renome internacional que se adaptou muito bem ao terroir do Algarve. Mais recentemente, alguns produtores têm também apostado em outras castas nacionais como a Aragonês e a Verdelho (branca e tinta, respetivamente), juntamente com outras castas internacionais como a Chardonnay e a Viognier (brancas).
Situado em pleno oceano Atlântico, o arquipélago dos Açores é formado por solos vulcânicos e um clima profundamente marítimo onde as temperaturas são amenas durante todo o ano, apesar da chuva e da humidade sempre presentes. As vinhas são plantadas em locais naturalmente abrigados ou entre muros construídos pela mão do homem para as proteger dos fortes ventos e da água do mar. É neste terroir de eleição que crescem vinhas que dão origem a vinhos raros, frescos e gastronómicos, salinos e minerais, de edição limitada, que não deixam ninguém indiferente.
A cultura da vinha existe no arquipélago dos Açores desde o século XV, sendo o Pico a ilha mais representativa. O vinho licoroso, doce e estruturado, sempre foi o mais conhecido e reputado ao longo dos séculos, mas agora também se produzem vinhos de mesa, especialmente brancos de paladar fresco e salino com as castas tradicionais existentes, o Verdelho, o Arinto dos Açores e o Terrantez do Pico.
O vinho Madeira é um dos tesouros de Portugal. A sua produção remonta à época da descoberta da ilha, em 1419. Terá sido o Infante D. Henrique a mandar introduzir as primeiras castas, que se crê terem sido importadas da Grécia. Delas fazem parte a Tinta Negra Mole (a mais cultivada da ilha) seguida da Sercial, Boal, Verdelho e Malvasia, sendo que as quatro últimas produzem vinhos de qualidade superior, assim como a Terrantez, uva rara cultivada em menor quantidade. O fabrico deste vinho generoso compreende várias operações, sendo o envelhecimento do vinho feito normalmente por meio de estufagem, durante alguns meses, a temperaturas próximas de 50 graus. Há ainda outro processo de envelhecimento, o ‘canteiro’, cada vez menos utilizado, embora dê ao vinho uma originalidade e um carácter muito especial, difícil de igualar. Os tipos de vinhos existentes são o seco, meio seco, meio doce e doce, sendo que, do mais jovem ao mais velho, surpreende quem o prova pela diferença. Uma experiência única que não deverá ser esquecida por quem visita a ilha ou quer conhecer um pouco mais sobre os vinhos portugueses.
Situada na região centro do país, a Beira Interior encontra-se numa zona que acolhe um misto de cidades industrializadas e aldeias históricas, planaltos e serras por onde correm rios, cascatas e lagoas de água gelada e cristalina. Na agricultura, os celtas deixaram alguns vestígios, mas foram os romanos que impulsionaram verdadeiramente a produção de vinho. No entanto, foi no limiar do século XII, pelas mãos dos Monges de Cister, instalados no Convento de Santa Maria de Aguiar, em Figueira de Castelo Rodrigo, que a cultura da vinha se desenvolveu de forma muito significativa. Desde 1999, a zona de produção DOC (Denominação de Origem Controlada Beira Interior) inclui as sub-regiões de Castelo Rodrigo, Cova da Beira e Pinhel. O reconhecimento da qualidade alcançado nos últimos anos, fazem da Beira Interior uma região que tem vindo a surpreender cada vez mais. As vinhas são influenciadas pelas montanhas que as rodeiam, as serras da Estrela, Marofa e Malcata, e pela altitude com variações entre os 400 e os 700 metros.
Os solos são maioritariamente graníticos, com alguma presença de xistos e alguma componente arenosa. O clima tem influência continental extrema, com impressionantes variações de temperatura. Os verões são curtos mas muito quentes e secos, os invernos prolongados e gélidos. Desta combinação de fatores resultam vinhos de grande exuberância aromática e muito complexos, frutados e frescos no paladar.
Os dois rios, Távora e Varosa dão o nome à região. O seu clima, as suas vinhas plantadas em solos graníticos, litólicos e de transição, reúnem boas condições para a elaboração de vinhos frescos, e com teores de acidez ideais para a produção de vinhos espumantes desde o tempo dos monges de Cister, no século XVII. A região foi demarcada por decreto lei em Novembro de 1989, sendo assim a primeira região demarcada de espumantes de Portugal. A área de vinha, com mais de dois mil hectares, abrange os concelhos de Lamego, Tarouca, Moimenta da Beira, Armamar, Tabuaço, São João da Pesqueira, Sernancelhe e Penedono. Com uma altitude média de 550 m, a região do Távora – Varosa é dotada de solos de granito areno - argilosos, leves, com reduzida capacidade para retenção de água, baixos teores em matérias orgânica e altos teores de potássio e fósforo. Sofre uma grande influencia continental, caracterizada por verões quentes e invernos rigorosos, fazendo fronteira com a região do Douro. Além dos espumantes, a região também produz brancos de aromas citrinos e corpo leve e fresco, e tintos de aroma frutado e corpo mediano.
A região é rasgada por numerosos vales e tem um clima ameno, temperado pela proximidade do Atlântico. Destacam-se dois tipos de solos que originam vinhos diversificados, os argilosos (com maior ou menor teor de calcário) e os arenosos. O minifúndio domina a região. Os vinhos são conhecidos desde sempre pela sua qualidade e longevidade. A Baga continua a ser a casta dominante mas outras castas tintas como a Alfrocheiro, Bastardo, Jaen e Touriga Nacional, também são utilizadas.
Mais recentemente, castas internacionais foram permitidas para produzir DOC Bairrada, como a Cabernet Sauvignon, Syrah, Merlot e Pinot Noir, que partilham os terrenos com as castas nacionais. Nas castas brancas, destacam-se as castas Bical e Maria Gomes (Fernão Pires), havendo ainda outras como a Arinto, Cerceal Cercialinho, Verdelho e Rabo de Ovelha. Nas estrangeiras, destacam-se a Chardonnay e a Sauvignon Blanc. Além dos brancos e tintos, nos espumantes a Bairrada também sobressai. É, sem dúvida, a região rainha dos espumantes em Portugal e onde existem as caves mais antigas deste estilo de vinho no país.
O Dão situa-se na região da Beira Alta, no centro norte de Portugal. É uma região muito montanhosa, com vinhas protegidas dos ventos agrestes. Os solos são pouco férteis, de granito e algum xisto que surge a sul e a poente da região. O Dão, o Mondego e o Alva são os rios que percorrem todo o maciço granítico. O clima é temperado, frio e chuvoso no inverno, e muito quente e seco no verão, existindo algumas variações microclimáticas de grande importância para a qualidade dos vinhos nas suas sub-regiões, cada uma a definir características próprias e bem definidas para os seus vinhos.
As vinhas são constituídas por uma grande diversidade de castas, entre as quais a Touriga Nacional, Alfrocheiro, Jaen e Tinta Roriz (nas tintas) e Encruzado, Bical, Cercial, Malvasia Fina e Verdelho (nas brancas). Desde sempre os vinhos do Dão são conhecidos pela sua frescura, elegância, equilíbrio e grande potencial de envelhecimento.
O Douro está dividido em três grandes sub-regiões: o Baixo Corgo, o Cima Corgo e o Douro Superior. A sua paisagem é marcada pelo esforço do homem em dominar solos inóspitos, particularmente difíceis de trabalhar. São muito duros, a maioria compostos por xisto e também algum granito, característica agravada pela forte inclinação do terreno.
As vinhas estão dispostas em socalcos, em patamares e ao alto. Este desenho da paisagem pela mão do homem contribuiu para que o Douro Vinhateiro fosse considerado Património Mundial da Humanidade pela UNESCO, em 2001.
A região é húmida, favorece a vegetação exuberante, mas não será por isso que se chama assim. No passado, a tradicional condução da vinha não contribuía para o amadurecimento uniforme das uvas, daí muitos dos cachos serem apanhados ainda verdes, dando origem a vinhos ácidos.
A modernização da viticultura e das adegas alterou esse cenário. Hoje, os vinhos são leves, frescos e muito equilibrados. Situada a noroeste de Portugal, é uma das regiões mais famosas do país.
Descubra tudo sobre os vinhos verdes, com Maria João de Almeida na série Vinho na Ponta da Língua no canal do youtube Lidl Portugal.
Tal como aconteceu com a ex-região vitivinícola do Ribatejo, a Estremadura alterou há mais de dez anos o seu nome para Lisboa, por ser a capital de Portugal, e um nome sonante, mais reconhecível e apelativo para os mercados externos. Situada na costa Oeste de Portugal, é uma terra de diversidade.
A paisagem, caracterizada pelo ondulado do relevo e pela presença das serras de Aire, Candeeiros, Montejunto e Sintra, tem vinhas cultivadas entre os dez e os trezentos metros de altura. O clima é temperado com influência atlântica e solos diversos dão origem a vinhos diferenciadores.
Para se tornar mais visível, o Ribatejo ganhou em 2009 uma nova indicação geográfica e passou a chamar-se Tejo, um nome marcante por ser um dos principais rios portugueses, reconhecido a nível nacional e internacional.
Situada no centro de Portugal, a região é dominada pelo rio, por pequenos montes e extensas planícies, grandes explorações agrícolas, uma diversidade de solos e climas, e a produção de vinhos de boa qualidade. Com perfis diferenciados, consoante as castas e os solos onde são plantadas, os vinhos do Tejo são maioritariamente aromáticos, jovens, frescos e frutados.
É rodeada pelo oceano Atlântico e pelos rios Tejo e Sado. A região, situada a sul de Lisboa, tem algumas diferenças a nível orográfico, mas a viticultura é homogénea.
As vinhas encontram-se distribuídas por praticamente toda a região, mas a maior parte está sediada em zonas planas, à exceção das vinhas situadas nas encostas da serra da Arrábida. Os solos são pobres, argilo-calcários e maioritariamente arenosos, abrangendo terras planas ou com suaves ondulações. O clima é mediterrânico e temperado.
A história vitivinícola do Alentejo é já muito antiga, mas só nas últimas décadas ganhou força, sendo a maior região produtora de vinho do país e a que mais certifica com Denominação de Origem.
O clima desta região é temperado, com características mediterrânicas e continentais. O relevo predominante é a planície, mas na zona de Portalegre as vinhas são plantadas nas encostas da Serra de São Mamede. Os solos predominantes são de origem granítica, com manchas de derivados de xisto e rochas com quartzo.